Com um sistema individual de geração e armazenamento de energia que utiliza placas solares, famílias de ribeirinhos, produtores e trabalhadores rurais do Pantanal, em Mato Grosso do Sul, estão ganhando acesso a eletricidade e melhorando as condições de vida na região. “Tudo era muito dificil. Tínhamos que fazer lamparina de óleo diesel para clarear”, relembra a catadora de iscas Enaurina da Silva Rodrigues, de 59 anos, falando do único recurso que tinha para enfrentar a escuridão da noite em sua casa, uma moradia simples, feita de lona e madeira, nas margens do rio Paraguai, na região do Pantanal do Paiaguás, a cerca de 100 quilômetros de Corumbá. O acesso a região é somente por barco ou por via aérea.
Enaurina foi uma das primeiras ribeirinhas a ser beneficiada pelo projeto Ilumina Pantanal e diz que sua vida mudou a partir da chegada da eletricidade. Ela comemora, principalmente, ter ganhado uma geladeira – da executora do projeto, a concessionária que atende a maior parte dos municípios do estado, a Energisa.
“Mudou muitas coisas, inclusive com a geladeira, porque nunca ia ter condições de ter uma geladeira. Agora tomamos água gelada. A comida não estraga. Antes, nos dias muito quentes tínhamos que pedir gelo para os turistas e não eram todos que ajudavam”, recorda.
Além da Energisa, são parceiros do projeto o governo de Mato Grosso do Sul, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Eletrobrás e o Ministério das Minas e Energia. Ao todo, a Energisa e o Governo Federal estão investindo R$ 134 milhões no projeto.
O gerente do projeto Heber Selvo, explica que a iniciativa de levar energia elétrica para uma das regiões mais remotas de Mato Grosso do Sul nasceu após mais de 5 anos de pesquisas e R$ 10 milhões investidos nos estudos.
A iniciativa foi criada, conforme ele, levando em conta a preservação do meio ambiente – desenvolvendo uma tecnologia que não agredisse o bioma; e a questão logística – com a utilização de materiais que tivessem um volume e um peso menor, possibilitando reduzir os custos com transporte e com manutenção.
O resultado foi um kit de energia solar com quatro placas e componentes de várias partes do mundo. O custo de cada kit é de aproximadamente R$ 64 mil e 60% é custeado pelo Programa Luz para Todos, do governo federal.
Até dezembro a Energisa pretende beneficiar 1.335 famílias com a iniciativa, atingindo a meta total do programa, 2.090 famílias espalhadas por uma área de 92 mil quilômetros quadrados em Corumbá, Aquidauana, Coxim, Ladário, Porto Murtinho, Rio Verde de Mato Grosso e Miranda, até abril de 2022.
Cliente convencional
O gerente do projeto diz que o pantaneiro que é beneficiado com o projeto é um cliente convencional da empresa, tanto que pode usufruir, por exemplo do benefício da tarifa social. Ele diz que após a instalação do kit, a própria empresa se encarrega de fazer uma instalação primaria na casa da família, com três lâmpadas de LED e duas tomadas.
O sistema, de acordo com Héber, foi projeto para atender a demanda de uma casa com três lâmpadas, uma geladeira e uma televisão. E sua bateria, de lítio, tem capacidade para atender a casa por até dois dias, mesmo sem a captação – em dias nublados ou com chuva forte, por exemplo.
O valor da conta pode variar, conforme ele, se a família for beneficiária da tarifa social até 100% de desconto – para índigenas e quilombolas, em torno de R$ 35 para outros tipos de beneficiários e até a R$ 60 se o consumidor for produtor rural.
A chegada da energia elétrica com o novo sistema fez outro morador ribeirinho, o pescador profissional, Aparecido Lima, de 55 anos, aposentar o gerador a óleo diesel. “Foi muito tempo esperando por isso. Mas chegou, foi uma benção de Deus. E agora mudou tudo. Eu gastava muito com combustível para o gerador, que agora tá encostado. A criançada agora pode brincar a noite tem geladeira, que ganhei da Energisa, para guarda o peixe, a carne e a verdura”.
Aparecido conta que já tem até planos para usar a eletricidade. “Quero trazer uma TV melhor. A que está em casa hoje é so para assistir DVD. Quero arrumar a casa e a coisa vai ficar melhor ainda”, diz o pescador, que mora com a esposa, filhos e netos no local.
Aparecido, ribeirinho no Pantanal de MS — Foto: Anderson Viegas/TV Morena
Mas enquanto alguns celebram a chegada da energia com o projeto, que começou a instalar os kits em junho deste ano, outros moradores do Pantanal ainda aguardam com ansiedade pelo benefício.
Esse é o caso do produtor rural Waldemar Magalhães, de 78 anos. Filho de desbravadores da região da Serra do Amolar, ele conta que nasceu e sempre viveu no local e hoje tem uma pequena lavoura de subsistência e algumas cabeças de gado leiteiro.
Em sua casa tem uma geladeira que funciona a gás e um gerador a óleo, que só liga em ocasiões especiais, quando precisar conservar algum alimento ou quando recebe visitas.
“Aqui não é fácil. Tem essa geladeira velha, a gás, que só esfria e malemal. E o gerador sai muito caro. Você não aguenta pagar o preço do diesel. Ligo ele somente quando precisamos. Se tenho que sair uso uma lanterna”.
Ele disse que ja ouviu falar do projeto Ilumina Pantanal e que aguarda a sua vez de receber o benefício. “Vai faciliar muito a nossas vida. As vezes tá um calorão. Vou poder comprar um ventiladorzinho”, planeja.
Waldemar e a alegria com a energia em casa, no Pantanal — Foto: Anderson Viegas/TV Morena
Nesta quarta-feira (28), o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), o diretor presidente da Energisa Mato Grosso do Sul, Marcelo Vinhaes, o diretor técnico Paulo Roberto dos Santos, o CEO da Energisa, Ricardo Botelho, vão fazer uma visita técnica a Porto São Pedro, na região do Pantanal do Paiaguás, Porto de São Pedro. O evento marca a universalização da energia elétrica no Pantanal de MS.
Fonte: Por Anderson Viegas, G1 MS