Uma ninhada de ovos de dinossauro terópode encontrada em Presidente Prudente (SP) está sob estudos de pesquisadores. O material fossilizado é do período Cretáceo Superior e tem entre 60 milhões e 80 milhões de anos. A descoberta foi divulgada ao g1 e à TV Fronteira neste domingo (26) pelo paleontólogo William Roberto Nava.
A primeira ocorrência de ovos fossilizados encontrados no sítio paleontológico do Parque dos Girassóis, em Presidente Prudente, é de setembro e outubro de 2020, segundo lembrou o paleontólogo. Eram ovos de crocodilos.
Passado quase um ano, especificamente em agosto de 2021, um novo material foi encontrado. Este não é associado a crocodilomorfo, mas, sim, a alguma espécie de dinossauro terópode, ou seja, carnívoro.
Essa associação ocorre devido a fatores como tamanho dos ovos e as características das cascas.
Pelo tamanho e pelo formato dos ovos, dá para estimar que era uma espécie de dinossauro carnívora de pequeno porte, conforme o paleontólogo.
“Enquanto nos ovos de crocodilos temos as dimensões entre 6 centímetros por 3,5 centímetros, esses de dino carnívoro medem em torno de 12 a 13 centímetros de comprimento por 6 a 7 centímetros de largura. Então, eles são bem maiores, indicando não se tratar de ovos de crocodilo e, sim, de alguma espécie desconhecida de dinossauro carnívoro”, esclareceu.
Nava ainda explicou que, normalmente, ovos fossilizados de crocodilomorfos possuem a casca externa com uma textura porosa ou lisa. Já a casca dos ovos dos dinossauros carnívoros possui uma textura “em forma de ondinhas”. “Parecem pequenas minhoquinhas onduladas, o que difere da textura do crocodilomorfo”, descreveu.
“Então, a ornamentação da casca desses ovos de dinos é muito semelhante à dos encontrados na Argentina e na Mongólia”, comentou Nava, que contou com a ajuda da auxiliar de campo e estagiária do Museu de Paleontologia de Marília(SP), Giovanna Paixão.
Uma observação acrescentada pelo paleontólogo é que quando diz-se tratar de um dinossauro desconhecido é porque junto e ao redor do ponto onde a ninhada foi encontrada não havia vestígios, como um dente ou parte de osso, por exemplo, que pudessem associar a uma espécie.
“Como o único registro são ovos isolados, vai precisar fazer um estudo em laboratório para determinar aproximadamente a que espécie ou a que grupo de dinossauros carnívoros de pequeno tamanho os ovos pertenceram”, destacou ao g1.
Importante descoberta
O primeiro registro de ovos fossilizados na região de Presidente Prudente relacionado a esses vertebrados no Parque dos Girassóis foi o de crocodilomorfo. A ninhada foi encontrada no ano passado.
Já na região, havia um registro de uns anos atrás de um possível ovo de ave pré-histórica num ponto perto do trevo de Álvares Machado (SP).
“Um ovo isolado, bem menor do que esses que nós estamos vendo agora e foi associado a ave, então, esse material de dinossauro e crocodilomorfo é o segundo registro pra região de Presidente Prudente de ovos desses animais primitivos, que viveram junto com os dinossauros ou que foram realmente dinossauros”, pontuou o pesquisador.
Nava ressaltou que “se trata de um registro extremamente importante e está num sítio paleontológico que é envolvido pela cidade e preservado pela Prefeitura de Presidente Prudente”, o que auxilia na continuidade das escavações.
“A descoberta de meses atrás da ninhada de ovos de dinossauro nos motiva ainda mais a continuar explorando essa área em que, com certeza, outros materiais surgirão tranquilamente”, declarou ao g1.
Ambiente propício
As ninhadas – de dinossauro e de crocodilos – estavam no mesmo nível topográfico do terreno, a uma distância de 4 a 5 metros. Segundo Nava, a situação indica que no passado, muito provavelmente, aquele ponto era um local de nidificação tanto de crocodilos quanto de pequenos dinossauros carnívoros.
“Eles encontraram um ambiente propício para a postura dos ovos, até o nascimento dos filhotes”, disse ao g1 o paleontólogo.
Ovos fossilizados de dinossauro terópode foram encontrados em Presidente Prudente (SP) e estão sob estudos de pesquisadores — Foto: William Nava/Arquivo pessoal
Entretanto, os ovos – de dinossauro e de crocodilos – estão ainda inteiros, ou seja, não eclodiram devido a algum evento desconhecido que aconteceu naquela época e impossibilitou o nascimento dos filhotes. Isso deve ser estudado.
Estudos e análises
Bem preservados, “esses fósseis de um carnívoro retirados em agosto deverão agora em 2022 ser submetidos a análises e estudos mais profundos”. “Vamos fazer estudos com as cascas dos ovos pra determinar possivelmente que espécie de dinossauro carnívoro era”, indicou.
Por ora, o estudo será concentrado nos fragmentos de casca. Os ovos não serão encaminhados para Brasília (DF), até por questão de segurança.
“Os ovos são materiais frágeis que precisam ser preservados, então, inicialmente, só fragmentos de casca vão ser encaminhados para a Universidade de Brasília [UnB] e lá serão submetidos a microscopia eletrônica de varredura, que são análises bem
minuciosas tanto pra determinar que grupo de dinossauros carnívoros era quanto pra associar com algo que se tenha aqui na América do Sul”, relatou.
Também vai ser avaliada uma característica presente em um dos ovos. “[Ele] apresenta uma recristalização de carbonato ou calcita, que é um mineral, é algo que está interno e chama muito a nossa atenção”, contou ao g1. Os outros quatro ovos têm arenito dentro.
“Numa análise quase que grosseira [superficial], por enquanto, estimamos que essa recristalização de carbonato que está internamente, que tem uma coloração cinza brilhante, pode possivelmente ser o líquido amniótico que envolvia o embrião do dinossaurinho e que por algum fator físico e químico sofreu essa recristalização, essa mudança, e formou esses cristais em volta”, disse.
“É uma hipótese que precisaríamos testar. Ou seja, o ovo está preenchido por carbonato que dá aquela impressão de estar (re)cristalizado”.
Somente uma análise de microscopia eletrônica de varredura, que é feita em laboratório, pode afirmar se internamente há ou não algum vestígio de embrião. “Possivelmente não, porque se, de fato, for o líquido amniótico recristalizado, não poderá haver embrião ali. Mas é só uma análise futura que poderá nos dizer”, finalizou Nava ao g1.