O primeiro rascunho do Acordo de Glasgow publicado nesta quarta-feira (10) inclui o reconhecimento de que o mundo deveria ter como objetivo limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius, o que pode ser o primeiro passo para obrigar os países a fazerem promessas mais ambiciosas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa nesta década.

O documento não é definitivo e os delegados de quase 200 países na COP26 vão negociar os detalhes nos próximos dias. O consenso de todas as nações é necessário para o texto final e, se acordado, o texto seria o primeiro forte reconhecimento de que 1,5 grau Celsius é o limite que o mundo deve almejar.

A linha mais notável é que o projeto insta os signatários a apresentarem, até o final de 2022, novas metas de redução de emissões para a próxima década, que os cientistas dizem ser crucial se o mundo deseja ter alguma chance de manter o aquecimento abaixo de 2ºC ou mais próximo a 1,5ºC.

David Waskow, diretor da International Climate Initiative do World Resources Institute (WRI), classificou a proposta de cobrar novas metas em 2022 como um progresso.

“Esta é uma linguagem crucial porque define o prazo em que os países precisam apresentar metas reforçadas para se alinhar com Paris”, disse Waskow, se referindo ao Acordo de Paris de 2015, que estabeleceu um limite de aquecimento global de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, com preferência de 1,5 graus Celsius.

Embora isso tenha sido acordado há seis anos, os planos de emissões de muitas nações ainda não se alinham com essa meta.

Waskow alertou que há “certamente governos que têm feito oposição a isso”, citando a Arábia Saudita e a Rússia. A CNN havia entrado em contato com esses países sobre o mesmo assunto na terça-feira e espera novos comentários.

A China disse publicamente várias vezes que se oporia a uma mudança no limite de aquecimento expresso texto do acordo de 2ºC para 1,5ºC.

Normalmente, os projetos de acordos de COP são atenuados no texto final, mas também há uma chance de que alguns elementos possam ser reforçados.

O rascunho inclui linguagem branda como “exorta” e “reconhece” em relação aos cortes de emissões, portanto não tem a mesma força de um tratado como o Acordo de Paris, mas tem alguma base legal.

Mas, no geral, a linguagem se baseia no Acordo de Paris e inclui linhas sobre a importância de acelerar a eliminação do carvão e de outros combustíveis fósseis, embora nenhuma data específica seja mencionada.

O diretor de negociações climáticas do WRI, Yamide Dagnet, disse que foram os países vulneráveis ​​ao clima que pressionaram por uma linguagem mais forte, mas o que eles querem é que o acordo estabeleça obrigações mais fortes para nações específicas.

Eles também estão vendo a meta de 2022 como difícil de atingir sem um aumento maior no financiamento.

“Para eles vai ser muito difícil voltar para casa e dizer, depois de todos os seus esforços, que é preciso fazer esforço de ajuste dentro de um ano”, disse ela.

Há uma seção extensa sobre a questão do financiamento do clima, que é o principal ponto de conflito nas negociações.

Uma dinâmica surgiu nas negociações em que as nações em desenvolvimento exigem que as nações ricas honrem a promessa que fizeram há mais de uma década de transferir US$ 100 bilhões por ano para o Sul Global até 2020 e começar a pagar por “perdas e danos”, o que significa se responsabilizar financeiramente pelos impactos nestes países, reconhecendo o papel histórico das nações ricas na crise climática.

O rascunho do acordo indica que a meta de US$ 100 bilhões provavelmente será cumprida até 2023, três anos depois do prometido, embora inclua vários pontos para incentivar uma mobilização mais rápida de dinheiro.

A linguagem é bastante frágil, pois não define metas anteriores para chegar ao financiamento.

“De um lado da balança, ele avança um processo detalhado para acelerar as metas de mitigação do clima, mas, do outro lado, em finanças e perdas e danos, é confuso e vago”, disse Mohamed Adow, diretor do think tank climático Power Shift Africa.

“O prazo final perdido para a promessa de US$ 100 bilhões não é reconhecido – e esta é uma questão importante para os países vulneráveis.”

Tracy Carty, chefe da delegação da Oxfam na COP26, disse: “O apoio para perdas e danos não pode ser deixado para atos aleatórios de caridade. Precisamos de um sistema financeiro robusto e novas fontes de apoio para países que sofrem com perdas e danos que vão além ajuda humanitária”.

“Faltam quatro dias e há tudo em jogo para garantir que Glasgow seja lembrado pelos motivos certos”, disse ela.

O que o acordo diz sobre o limite de 1,5ºC

Sobre o limite de 1,5 grau Celsius, o documento “reconhece que os impactos das mudanças climáticas serão muito menores com o aumento da temperatura de 1,5ºC em comparação com 2ºC e resolve buscar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC, reconhecendo que isso requer uma ação significativa e eficaz por todas as partes nesta década crítica, com base no melhor conhecimento científico disponível”.

“Também reconhece que limitar o aquecimento global a 1,5ºC até 2100 requer reduções rápidas, profundas e sustentadas nas emissões globais de gases de efeito estufa, incluindo a redução das emissões globais de dióxido de carbono em 45% até 2030 em relação ao nível de 2010 e para zero em meados do século.”

Texto e Foto: CNN Brasil