Após presenciarem a morte do bebê Ravy Luiz de Arruda Aldama, de dois meses de idade, os pais acusam o Pronto Socorro de Corumbá de negligência. O pai Wallyson Jorge Brandão, 28 anos, e mãe Evelyn Amorim de Arruda, 29 anos, estão inconsolaveis e dizem que o filho morreu à espera de atendimento médico no corredor.
Evelyn publicou nas redes sociais que viu o filho agonizando até a morte e foi a primeira a denunciar o hospital.
O pai da criança disse que o filho morreu na segunda-feira (25), após a família procurar duas vezes o posto de saúde, e uma vez o Pronto-Socorro. Foram três idas sem respostas até a morte, disse ele ao TopMídiaNews, que divulgou o caso.
Ravy apresentava tosse, e segundo o pai da criança, ele foi levado no dia 28 de junho e 12 de julho a Unidade Básica de Saúde Padre Ernesto Sassida. Mas que o médico sequer examinou, ou passou medicamentos ao bebê.
“Duas vezes a gente foi procurar atendimento no posto do bairro, e o médico sequer tirou ele do carrinho. A minha esposa disse pra ele ouvir o peito, e mesmo assim o médico não passou nenhum medicamento.”
Ele diz que a primeira vez que o Ravy teve um medicamento recomendado por médico foi na última quinta-feira, onde a família esteve no Pronto Socorro e recebeu antialérgico e antibiótico.
Conforme o pai, o médico que atendeu disse que ele estava bem, apesar de apresentar mancha no pulmão. A família foi liberada e voltou para a casa onde passou o final de semana. Na segunda-feira, dia 25 de julho, Ravy passou mal e começou a ficar roxo, e sem ar.
Em desespero, Evelyn saiu com o filho nos braços a procura de socorro de vizinhos, que levaram até o quartel do Corpo de Bombeiros. Lá, os militares socorreram a criança que foi levada as pressas para o Pronto-Socorro.
Segundo o site, a família disse que o filho chegou na troca de plantão e mesmo estando em estado grave houve descaso no atendimento. “Os profissionais não foram rápidos”, diz a mãe.
O pai, Wallyson afirma que recebeu ligação sobre o filho e foi até o quartel.
“Os militares disseram que podia ser uma pneumonia grave. E eu estava com ele e minha esposa. Depois, já no Hospital, os médicos não queriam deixar minha esposa na sala de emergência. O médico que estava de plantão só olhava para ele e não quis atender.”
O pai e mãe afirmam que inicialmente a equipe médica achou se tratar de um engasgamento com leite, e que a esposa teve de repetir que não havia amamentado Ravy por diversas vezes. Além disso, Walllyson conta que Ravy não recebeu atendimento médico imediato, e que foi apenas colocado um cilindro de oxigênio com máscara de adulto, e que não se encaixava no rosto do bebê.
“Minha esposa implorou, e disse: ‘pode atender meu filho? Ele está morrendo?, aí o rapaz disse que tinha de preencher a papelada, pois se não, meu filho não ia sair dali. Eles fizeram um monte de furo no bracinho dele, colocaram máscara que não era do tamanho dele.”
Guarda foi acionada
Wallyson afirma que entrou em desespero ao ver o filho morrendo na sua frente, e a esposa que fez um escândalo no hospital, que acionou a Guarda Municipal.
“Ele começou a perder o ar de novo, e nisso encaminharam ele pro raio-X e deixaram ele no corredor. Como que uma criança em estado grave não tem preferencia?”.
Eles indicam que foram ignorados pelo atendimento desumanizado. A família afirma que somente depois que Ravy já estava morto, foi que a equipe de médicos deu atenção ao atendimento. “Imploramos e não tinha pediatra. Pedi e implorei a todas as enfermeiras, e uma de nome Marilda disse que ele chorava porque era bebê. Ele estava agonizando e a gente entrou em desespero.”
“Chegaram os guardas com cassetete para tirar a gente dali. Meu filho estava praticamente sem vida, e um médico que nem estava de plantão, o doutor Manoel João, que é conhecido da família foi ali. Fez o possível, intubou meu filho, e tentou de tudo. Ele faleceu ás 20h10”, disse o pai indignado.
Eles pendem justiça e promete abrir processo contra o Hospital. O caso também já foi denunciado ao Ministério Público. “Depois que divulgamos o fato nas redes sociais, que o hospital entrou em contato. Agora, dizem que é covid. Não acreditamos, pois a enfermeira que fez o teste disse que tinha dado negativo. Não queremos dinheiro, nada. O que queremos é justiça e que o culpado se responsabilize.”
Atestado de causa morte
Além disso, a família contesta o atestado de causa morte emitido pelo hospital e indica que o médico que assinou não deu atendimento, e sequer estava lá na hora dos fatos.
O documento aponta que a morte ocorreu em por problemas cardiorrespiratórios por suposta cardiopatia congênita, mas Wallyson não acredita nisso, e diz que o filho não tinha problema no coração.
“A gente contesta esse laudo, porque o pediatra doutor Emerson, não estava no Hospital. Da hora que meu filho chegou até a hora que foi para a funerária, esse médico não estava lá. Meu filho fez exames particulares e testes quando nasceu e não tinha problema.”
O que diz a Prefeitura de Corumbá?
Foi solicitado nota retorno a assessoria de comunicação de Corumbá, que manifestou condolências a família e deu sua versão sobre o atendimento.
Veja a nota na íntegra:
Inicialmente, a Administração municipal manifesta à família e amigos os mais sinceros sentimentos de solidariedade e pêsames pela sentida perda. Por determinação do prefeito Marcelo Iunes, o caso está sendo apurado e, se necessário, será aberta uma sindicância para apurar o ocorrido.
A Secretaria Municipal de Saúde esclarece que no último dia 25, uma criança foi levada pelos pais ao SAMU. Ao chegar no local, ela foi prontamente atendida, pelo médico e pela enfermeira de plantão, a mesma estava engasgada e cianótica (com a pele arroxeada). A equipe realizou manobra de desengasgo, ofertou oxigênio e foi transportada em uma ambulância de Suporte Avançado para o Pronto Socorro.
Às 18h45, ao chegar no PS, a mesma foi imediatamente encaminhada para a Sala de Emergência, apresentando cansaço, dispineia e saturando 92 em ventilação ambiente. Foi utilizado oxigênio em máscara infantil, realizado exame de Raio-X (momento no qual foi feito o registro fotográfico que circula na internet), coletado RT-PCR para Covid-19, no qual o resultado foi POSITIVO, e acesso venoso para medicação. Às 19 horas foi inserida no sistema do Núcleo de Regulação Hospitalar a solicitação de vaga para internação pediátrica.
Às 19h35, ainda em atendimento, a criança teve uma parada cardiorrespiratória e foi entubada. A equipe tentou reanimá-la inúmeras vezes, sendo que 4 médicos prestaram assistência, porém sem sucesso, infelizmente. O óbito foi constatado às 20h10, por insuficiência respiratória, choque e cardiopatia cardiogênica.
Ressalta-se que a criança esteve o tempo todo sendo assistida pela equipe médica e de enfermagem, e que todos os protocolos foram seguidos. A criança esteve a todo momento acompanhada pela mãe.