Jorrada pela força a centenas de metros abaixo do solo, a água cristalina sai de forma abundante e contrasta com a crise hídrica e o período de estiagem, que é quando a escassez da chuva deixa prejuízos. Iniciadas em janeiro deste ano, as obras de perfuração de nove poços resultam em acréscimo de 1,7 milhão de litros/hora de água produzida e melhorias na produção e distribuição da água potável, em diversos bairros de Campo Grande.

A estratégia foi necessária porque, a cada ano que passa, além do crescimento populacional, as condições climáticas adversas também influenciam e aí ocorre o planejamento por parte da Águas Guariroba, que é a concessionária responsável pelo abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto.

Desta forma, com o aumento da capacidade de produção, o risco de faltar água ou então ocorrer um racionamento é muito menor, principalmente, quando o “calorão aparece”.

Além disso, a água é essencial na luta contra o novo coronavírus e uma das medidas básicas de prevenção fica por conta da higiene efetiva das mãos, sendo necessário o fornecimento de água potável de forma contínua, não só nas instalações de saúde como também nas casas.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), são necessários ao menos 100 litros de água, por paciente por dia, para tratar as infecções respiratórias agudas. Também é preciso ter ao menos 5 litros de água por consulta médica, além de 15 litros de água por dia para beber, cozinhar e garantir a higiene básica.

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Melhorias na produção da água potável em Campo Grande;
Qual é a estratégia com a perfuração de poços e super-poços na cidade;
Crescimento populacional X condições climáticas adversas, com a época de “calorão”;
O tratamento da “água bruta” até chegar na torneira da população;
O que moradores acharam das obras dos poços;
Porque o sistema da capital sul-mato-grossense é privilegiado;
Como fica a qualidade da água com as obras dos poços
“Nós temos o aumento da temperatura e, ao mesmo tempo, a redução significativa das chuvas. É o resultado da estiagem, algo que os especialistas dizem ser a pior seca dos últimos 90 anos. No país, há algum tempo, tivemos exemplos de cidades brasileiras, metrópoles inclusive, que precisaram fazer o rodízio de água, tudo isso em função das alterações climáticas. É por isso que a concessionária se planejou para fazer a ampliação da capacidade de produção”, afirmou ao G1 o diretor executivo da Águas Guariroba, Gabriel Buim.
Atualmente, conforme levantamento de operação da concessionária, de janeiro a junho deste ano, o Córrego Guariroba foi responsável por 42% do abastecimento de água na capital sul-mato-grossense e são diversas as obras de manutenção para deixar a área preservada. Outra fonte, segundo Buim, é o Córrego Lageado, cuja contribuição foi de 14%. Já os poços contribuíram com 27% e os super-poços, 17%.

“No caso do Guariroba não tem redução, então, somente a manutenção mesmo para fazer com que a área continue preservada e tenhamos um bom volume de água. Já o Lageado pode ter quedas drásticas, principalmente, no período de seca. E ainda existe um número grande de condomínios saindo ali perto, o que diminui a infiltração de chuvas, temos uma perda de vazão, então, olhando para esse horizonte, estamos fazendo uma série de ações a médio a longo prazo”, ressaltou o diretor.

Desta forma, antes da chegada do período chuvoso, que é no início de setembro e vai até meados de janeiro, a Águas Guariroba realizou um cronograma para a perfuração de nove poços na cidade, totalizando investimento de cerca de R$ 50 milhões.

“A captação de água nestes poços é de 1,7 milhão de litros/hora de água produzida para a cidade, o que equivale a uma nova captação do Lageado, principalmente no período chuvoso, então, é como se estivéssemos trocando essa captação por nove novos poços espalhados em pontos estratégicos”, explicou Gabriel.

Sistema privilegiado

A “água bruta”, captada nos córregos da capital sul-mato-grossense, passa por diversas fases de tratamento até chegar aos reservatórios e, em seguida, abastecer a população. Ainda conforme o diretor executivo da concessionária, é um “sistema de distribuição privilegiado” que difere de muitas cidades brasileiras, com a possibilidade de remanejamento de um bairro a outro, por exemplo.

“Se precisar, podemos acionar no Guariroba e conseguimos tirar a água que tinha destino no bairro Maria Aparecida Pedrossian e enviar lá para o Taveirópolis ou então deixar na região central, por exemplo. No caso de uma necessidade de reforço, podemos também pegar água do bairro Paulo Coelho Machado e mandar lá para o Dom Antônio Barbosa, tudo isso em função das adutoras que temos e vão se conectando em sistemas principais”, argumentou Buim.

Para a perfuração dos super-poços, houve uma escolha de regiões mais periféricas, a qual ficam “de uma ponta a outra” da cidade.

“Esses poços são obras de captação para abastecimento humano. Temos os poços mais rasos, com até 30 metros de profundidade, aqueles mais profundos, de 200 até 350 metros e que abastem uma região e os super-poços, de 350 a 660 metros, o qual há camada boa de arenito e isso já filtra a água, sendo necessário depois um processo de desinfecção”, disse.

Água limpa

Moradora do bairro Pioneiros, região sul de Campo Grande, a aposentada Evangelina da Silva Godoi, de 74 anos, fala que acompanhou a obra desde o início e, quase que diariamente, atravessava a rua para conversar com engenheiros e outros funcionários envolvidos na construção do poço. Hoje, ela ressalta que tem muito orgulho em morar na frente de um super-poço.

“Eu falo que é a água limpa pra gente lá do fundo. Cheguei aqui nesse bairro em 1980. Era tudo mato, não tinha colégio, creche, nada. Hoje, além do aumento do bairro, vejo que foram feitas muitas melhorias e este poço é uma delas. No início, teve um pouco de barulho e poeira, mas, hoje a gente vê que valeu a pena e será muito difícil faltar água por aqui”, comemorou a idosa.
Da mesma forma, a comerciante Dirlene Paes Taveira, 49 anos, fala da construção do super-poço no bairro, de 580 metros de profundidade. “A gente, embora tenha tido o transtorno no início da obra, sabe que uma construção desta é com tecnologia para não faltar água e está ótimo. A concessionária ainda colocou um guarda aqui, 24 horas por dia monitorando, então, não tenho nada a reclamar”, disse.

Consumo maior no calorão

Temperaturas em média 37°C e 38°C, sensação térmica acima dos 40°C e feriados e finais de semanas inteiros com gente em casa. O resultado? Consumo maior de água, com gente enchendo a piscina, lavando roupa e limpando calçada, entre outras atividades com o uso de água.

“As pessoas aproveitam estas folgas para fazerem muitas atividades domésticas e isso acarreta em um consumo maior. Mas, com estas obras que começaram no início do ano e encerraram agora, na primeira semana de setembro, não tivemos nenhuma intercorrência. E é importante ressaltar que, nestes poços, a operação não será 24 horas e sim no período de estiagem. Eles foram feitos especificamente para esta demanda, junto com o aumento significativo da temperatura e mais a questão da umidade relativa do ar”, argumentou.

Onde ficam os poços e super-poços:

Poço Taveirópolis – Já está em operação e com uma vazão de água de até 250 mil litros/hora. A estimativa é de que o poço beneficie cerca de 150 mil moradores. Profundidade é de 590 metros.
Poço Nova Lima – Produção de água será de até 200 mil litros por hora, beneficiando mais de 63 mil moradores. Profundidade é de 660 metros.

Super-poço Universitário – Neste poço, foram feitas adequações como a implantação de uma adutora para o transporte do volume de água produzida pelo poço que já está em operação. Com uma vazão de 180 mil litros/ hora de produção de água, a estimativa é de que cerca de 30 mil moradores na região sejam beneficiados. Profundidade é de 350 metros.

Super-poço Pioneiros – Em fase de finalização e com uma vazão de produção de água estimada em 350 mil litros por hora, a estimativa é de que o poço do Pioneiros beneficie cerca de 86 mil moradores. Profundidade é de 536 metros.

Super-poço São Conrado – Com uma vazão de produção de água estimada em 250 mil litros por hora, a estimativa é de que o poço do São Conrado beneficie cerca de 35 mil moradores. Profundidade é de 460 metros.

Super-poço Pênfigo/ Coophavilla II – Com uma vazão de água de até 300 mil litros/ hora, a estimativa é de que o poço beneficie cerca de 93,4 mil moradores. Profundidade é de 500 metros.

Poço Parque dos Poderes – Produção de água será de até 50 mil litros por hora, beneficiando mais de 1.300 moradores. Profundidade é de 100 metros.

Poço Caiobá – Com uma vazão de produção de água estimada em 100 mil litros por hora, a estimativa é de que o poço do Pioneiros beneficie cerca de 14 mil moradores. Profundidade é de 350 metros.

Poço Lageado – O novo poço atuará como reforço do cronograma de abastecimento realizado pela Captação Lageado. Profundidade é de 350 metros.

Segurança hídrica

Para entender a qualidade da água oferecida pelo poços, o G1 conversou com a Coordenadora de Laboratório e Monitoramento da Qualidade da Água, Vera Sandim. Ela ressaltou que, cada vez que uma obra deste tipo é realizada, a água passa por constantes análises, conforme a Resolução 396/2008 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

“Houve a perfuração dos poços em diferentes bairros da cidade, os quais possuem as siglas CGR 291, CGR 300 e CGR 309, como é o caso dos bairros Pioneiros e Nova Lima, por exemplo. A intenção é aumentar a disponibilidade de água, sendo que são realizadas diversos procedimentos, como a análise de metais pesados, compostos orgânicos, pesticidas, série nitrogenada, entre outros”, explicou Sandim.

Ao mesmo tempo, a coordenadora comentou que o procedimento e monitoramento é feito nos mananciais, de forma rotineira, visando garantir a qualidade da água fornecida. Desta forma, antes de chegar às torneiras, podemos dizer que a água percorre um “longo caminho”, por uma estrutura de 3.952 quilômetros de rede, equipamentos, tecnologia, trabalho e controle 24 horas por dia.

Vale ressaltar que, mesmo com a ampliação da oferta de água, principalmente nos horários de pico, o consumidor deve manter o consumo consciente de água, o que ajuda a reduzir os riscos de racionamento. De acordo com a concessionária, o levantamento aponta que a cidade cresce de 2% a 3% ao ano, sendo que o número de ligações acompanham este percentual.

Confira algumas dicas:

Mantenha a torneira fechada ao lavar as mãos, escovar os dentes, fazer a barba e ao ensaboar a louça. Ao escovar os dentes com ela aberta, você gasta cerca de 13,5 litros de água em apenas dois minutos.
Tome banhos curtos. Cinco minutos são suficientes para fazer a limpeza do corpo e, enquanto você se ensaboa, o registro deve ser fechado. Isso gera uma economia de até 30 mil litros no ano.

Evite duchas de alta pressão. Apesar de serem usadas para dar a sensação de massagem no corpo, as duchas de alta pressão são inimigas do consumo consciente de água. Elas tem uma vazão grande, de 20/30 litros por minuto. Um banho de 10 minutos em um chuveiro de 30 litros por minuto gasta em média 300 litros de água – a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o consumo consciente por habitante é na ordem 112 litros por dia.

Organize a louça antes de lavá-la. Use uma bacia para deixar os utensílios de molho, para amolecer a sujeira, lave toda a louça e enxágue tudo de uma única vez. Isso e o uso de materiais biodegradáveis também ajudam na economia.
Só ligue a lava-louças e a lava-roupas quando estiverem cheias, pois isso evita o desperdício. Espere juntar uma quantidade de roupas ou louças suficiente para encher os eletrônicos. No caso das roupas, verifique se elas realmente precisam ser lavadas – várias peças, como casacos e calças jeans, podem ser usadas mais de uma vez antes de precisarem ser lavadas.

Se possível, prefira usar a lava-louças no lugar da maneira tradicional de limpeza. O equipamento chega a economizar cerca de seis vezes a quantidade de água normalmente gasta – mas para valer a pena precisa estar cheio de louça.

Adote dispositivos que ajudam na redução do consumo de água, como o arejador de torneiras, o restritor de vazão, bacias sanitárias VDR e válvulas automáticas para mictórios. Em condomínios e empresas o uso desses equipamentos gera uma boa redução de custos.

Se você tiver uma piscina, cubra-a com uma capa quando não estiver usando. As piscinas podem perder até 90% de sua água em um mês por conta da evaporação. A cobertura também evita o depósito de folhas e outros resíduos e uma piscina limpa precisa de menos trocas de água. Revise sempre a bomba e o filtro, já que o mau funcionamento desses equipamentos aumenta o gasto de água.

No jardim, evite regar as plantas nos horários de sol forte. Regar o gramado ou o jardim antes das 10 horas da manhã e depois das 7 horas da noite previne o excesso de evaporação – evite também a mangueira. No inverno é possível regar as plantas dia sim, dia não. Com essas medidas, você pode economizar cerca de 96 litros de água diariamente só com as plantas.

Use a vassoura para limpar o quintal, a calçada ou as áreas comuns de prédios e empresas – uma mangueira ligada por 15 minutos gasta 280 litros de água (nenhum pouco consciente não?!). Se precisar usar água, prefira equipamentos de limpeza a jato, que usam uma quantidade mínima de água aliada com uma forte pressão.
Use um balde e um pano para limpar o carro.

Preste atenção e conserte eventuais vazamentos na sua casa. Um buraco de 2 mm em um cano de uma única casa desperdiça 3.200 litros de água por dia.

Converse com as pessoas à sua volta sobre o consumo consciente de água, incentive ações de economia e redução no uso desse bem tão valioso. Se você mora em prédio, converse com os moradores do condomínio sobre a implementação de hidrômetros individualizados, que estimulam cada morador a ter uma maior consciência sobre o seu consumo de água.
Reutilize as águas cinzas, que são aquelas provenientes do chuveiro ou da máquina de lavar roupas (dentre outras), para limpar os terraços ou outras áreas externas do prédio. O reúso de água é uma excelente forma de consumo consciente. Água cinza é toda água proveniente do chuveiro ou da máquina de lavar roupas que ainda pode servir para atividades como lavar o quintal, dar descargas, limpar pisos e paredes ou até regar o jardim (dependendo do tipo de substância com o qual a água tiver entrado em contato).

Use cisternas para fazer a captação e armazenar a água da chuva. Um boa forma de exercitar o consumo consciente de água é aproveitar a água que caiu do céu. Literalmente! Você pode usar uma cisterna ou minicisterna para captar a água da chuva e reutilizá-la em regas, na limpeza do quintal, dos pisos, dentre outros.

Fonte: Ecycle