Até o momento 57 pessoas morreram e 169 pessoas que foram feridas, incluindo feridos de combate e não-combatentes, na sequência de ataques das forças russas, disse nesta quinta-feira (24) o ministro da Saúde da Ucrânia, Viktor Lyashko.

Ross Kasakoff e Ana – Foto: Arquivo pessoal)

Há dois anos morando na capital da Ucrânia, Kiev, com a namorada Ana, o intérprete campo-grandense Ross Kasakoff, de 30 anos, fala como está o clima entre os moradores, após a invasão da Rússia, que enviou tropas ao leste do país.

“Já começou aquele clima de apreensão que pode suceder algo mais profundo. A mobilização já começou sirenes, convocação dos reservistas. A Ucrânia está se mobilizando para sua defesa, mas está tudo na mão dos russos agora. Os moradores, assim como eu, até pouco tempo, não acreditavam em uma invasão, inclusive, as pessoas do leste. Porém, agora, a perspectiva mudou e as pessoas estão bem mais atentas às mudanças e começando se organizar nos grupos de aplicativos caso a situação piore”, conta o campo-grandense.

A orientação do governo é permanecer em casa e ninguém na rua, segundo Kasakoff. “Não dá para observar muita coisa na rua, noite passada ficou muito escuro e tudo em silêncio. Passei a noite na casa de um amigo e hoje (25) retorno para casa da minha namorada, ela está bem, porém possui parentes na região leste onde a situação é mais acirrada. Não é aconselhável sair na rua, parece filme, nem dá pra acreditar”, comenta. 

Antes do confronto, Kasakof pensou em sair da Ucrânia, mas se preocupa com o trabalho. Ele é intérprete em uma clínica que trabalha com barriga de aluguel, procedimento legalizado na cidade. Casais inférteis do mundo inteiro vão para Kiev procurar tratamento. “Tenho muita responsabilidade em meu trabalho colaborando com casais brasileiros, inclusive, com alguns agora aqui na cidade.”

Ross Kasakoff em seu trabalho – Foto: Arquivo Pessoal)

Mobilização

Em grupos de WhatsApp, os moradores trocam informações sobre locais dos abrigos antibombas, atualizações de conflitos e também se ajudam, pois os que estavam fora do país não puderam voltar devido ao fato de terem cancelado todos os voos. Algumas pessoas já foram para o interior.

Os aeroportos estão fechados e eles ainda não sabem se realmente há invasões próximas da Capital. Ele conta que, em Kiev, existe também uma especulação de que tropas da Bielorrússia começam a entrar pela parte norte do país, porém nada confirmado.

Todos são orientados a irem para vários abrigos antibombas. O presidente russo, Vladimir Putin, disse que essa é uma “operação militar especial” na região do leste da Ucrânia para defender separatistas, que já dominam um estado do país, mas ninguém sabe se isso pode ser um confronto maior.

O governo de Kiev fala em “invasão total”, segundo correspondente da Folha de São Paulo em Moscou, na Rússia, mas ainda não se vivencia “o pânico veiculado pelas mídias brasileiras”, segundo Kasakoff. Ele conta que não se sabe o número exato de mortes em confronto no leste, mas em Kiev, todos estão em estado de atenção.

Segundo Kasakof, há “declarações soltas” de que bombardearam uma instalação militar em um local próximo de Kiev, mas não há essa certeza. “Esse lugar é semelhante ao nosso Indubrasil de Campo Grande”, explica.

Entenda o conflito

Após meses de escalada militar e intemperança na fronteira com a Ucrânia, a Rússia atacou o país do Leste Europeu. No amanhecer desta quinta-feira (24), as forças russas começaram a bombardear diversas regiões do país.

Foto: Reuters

Horas mais cedo, o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou uma “operação militar especial” na região de Donbas (ao Leste da Ucrânia, onde estão as regiões separatistas de Luhansk e Donetsk, as quais ele reconheceu independência).

O que se viu nas horas a seguir, porém, foi um ataque a quase todo o território ucraniano, com explosões em várias cidades, incluindo a capital Kiev. De acordo com autoridades ucranianas, dezenas de mortes foram confirmadas nos exércitos dos dois países.

Em seu pronunciamento antes do ataque, Putin justificou a ação ao afirmar que a Rússia não poderia “tolerar ameaças da Ucrânia”. Putin recomendou aos soldados ucranianos que “larguem suas armas e voltem para casa”. O líder russo afirmou ainda que não aceitará nenhum tipo de interferência estrangeira.

Esse ataque ao ex-vizinho soviético ameaça desestabilizar a Europa e envolver os Estados Unidos.

Foto: Reuters

A Rússia vem reforçando seu controle militar em torno da Ucrânia desde o ano passado, acumulando dezenas de milhares de tropas, equipamentos e artilharia nas portas do país.

Nas últimas semanas, os esforços diplomáticos para acalmar as tensões não tiveram êxito.

A escalada no conflito de anos entre a Rússia e a Ucrânia desencadeou a maior crise de segurança no continente desde a Guerra Fria, levantando o espectro de um confronto perigoso entre as potências ocidentais e Moscou.