O Juiz Aluízio Pereira dos Santos, titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, decidiu mandar a julgamento popular cinco réus por execução ocorrida em dezembro de 2019, quando Sandro Lucas de Oliveira, o “Alemãozinho”, 24 anos, foi vítima de “tribunal do crime”, como são chamados os justiçamentos ordenados por facções criminosas. Entre os réus, está Eder de Barros Vieira, de 38 anos, que durante o inquérito foi apontado como uma das chefias do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Mato Grosso do Sul.

A ele, conhecido como “Mistério”, é atribuída a tarefa de comandar a estrutura nas ruas de Campo Grande da máfia surgida nos presídios de São Paulo e hoje espalhada por todo o País. Aos 38 anos, Eder tinha ficha limpa até ser preso como mandante do assassinato de “Sandrinho”, outro apelido da vítima.

Foram sete envolvidos, um deles o menor de idade, que foi capturado e colocado em regime de internação. Outro participante, segundo o relato policial, morreu em meio ao trabalho investigatório. Ele não foi identificado. Os outros cinco integrantes do PCC foram presos entre junho e julho do ano passado.

Mensagens em áudio descobertas pela Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio (DEH) mostram um dos envolvidos confessando o crime e indicando o mandante.

À justiça, “Mistério” negou qualquer tipo de participação no assassinato. Rejeitou até ser da facção, o que havia confirmado em depoimento gravado na DEH. Todos os réus estão presos aguardando julgamento por homicídio qualificado.

Tribunal do crime

 

Sandro Lucas, o 'Alemãozinho', que foi sequestrado e morto em dezembro de 2019. — Foto: Redes Sociais

Sandro Lucas, o ‘Alemãozinho’, que foi sequestrado e morto em dezembro de 2019. — Foto: Redes Sociais

Sandro Lucas, a vítima, estava jurado de morte por ter espalhado ser integrante do Comando Vermelho (CV), facção originada no Rio de Janeiro, rival do PCC, e oferecer droga de qualidade mais apurada.

Quando foi sequestrado pelo grupo, na Praça do Bairro Nova Campo Grande, no dia 8 de dezembro de 2019, conforme o inquérito, primeiro Sandro Lucas foi levado para casebre nos fundos de frigorífico na Vila Popular. Ali houve curto-circuito e foi preciso levar o “conduzido” para outro local.

Em seguida ele foi encaminhado para uma chácara abandonada no Parque dos Poderes onde houve a tortura fatal.

Argumento da defesa

Durante o andamento do processo, as defesas alegaram falta de provas contra os réus. A de Eder de Barros Vieira diz que ele mentiu na delegacia, alegando violência policial. As falas dele foram gravadas em vídeo.

Essa alegação foi alvo de investigação do Grupo de Atuação Especial para o Controle da Atividade Policial (Gacep), que está anexada à ação penal, sem conclusão até o momento.

Para o Juiz, o relatório constante da pronúncia, quando ele aceitou a denúncia da promotoria, é completo “em todos os sentidos”.

Na decisão levando os réus a julgamento, o magistrado analisa pedidos dos advogados, entre os quais de reprodução simulada da morte de Sandrinho, providência negada. Aluízio Pereira dos Santos, depois de confirmar a sentença, determina a anexação de laudo do local de crime pela delegacia especializada e ordena a ida dos autos à pauta e julgamentos.

Já houve análise em segundo grau desse caso, confirmando as acusações. Os advogados até podem recorrer a tribunais superiores, mas isso não impede a marcação do júri.

Fonte: Por Marta Ferreira, G1 MS