“Não existe algo de café que não seja o grão do café. Tudo o que tiver sendo feito fora o grão é impureza e traz riscos para saúde”, alerta o diretor executivo da ABIC, Celírio Inácio da Silva.

De acordo com infomações da Anvisa,  para alguns alimentos específicos existe um padrão de identidade que deve ser seguido pelo fabricante. No caso do café só pode ser considerado “café” o produto originado do endosperma (grão) beneficiado do fruto maduro de espécies do gênero Coffea, como Coffea arábica L., Coffea liberica Hiern, Coffea canephora Pierre (Coffea robusta Linden), submetido a tratamento térmico até atingir o ponto de torra escolhido, em grãos ou moído, podendo apresentar resquícios do endosperma (película invaginada intrínseca). Essa definição está na resolução RDC nº 716/2022.

Diante das fortes altas históricas nos preços do café nos últimos dias, o repasse ao varejo se tornou inevitável e o consumidor deve sentir, em breve, um aumento de até 25% na sua xícara. “Este aumento exorbitante no preço do café, nunca visto na história das bolsas de café, está impactanto de forma avassaladora a capital de giro da indústria cafeeira nacional. Este aumento ainda não foi repassado em sua totalidade ao varejo, mas isso deve acontecer nos próximos meses.  E é neste momento de alta que vivenciamos as fraudes no mercado”, conta Pavel Cardoso, presidente da ABIC.

Essa fraude já chegou nas prateleiras dos supermercados brasileiros. Chamado de  “café fake” ou “cafake”, este “novo” produto é rotulado como “sabor café” e está sendo ofertado aos consumidores. Segundo Celírio, isso não é novo e já houve várias tentativas de fazer com que um produto ou outro vegetal se passe como café, “mas , isso é uma fraude, uma forma de enganar o consumidor”, completou.

A ABIC vem realizando testes de microscopia na composição deste produto e já constatou que o nível de impureza encontrado no material é gigantesco e oferecem misturas impróprias para o consumo humano. Recentemente, a Instituição identificou a venda do pó com sabor café que era produzido a partir de cascas, palha, folhas, paus e qualquer parte da planta (exceto a semente do café), em Bauru, no interior de São Paulo.

Em imagens divulgadas nas redes sociais, o “cafe fake” estampa uma embalagem muito semelhante a do verdareiro café, mas com um custo bem menor. O pacote de meio quilo aparentemente é ofertado por R$ 13,99, menos da metade do preço médio do café no varejo que atualmente está quase na faxia dos R$ 30.

Em nota, a Anvisa alerta que a declaração de informações de rotulagem que possam induzir o consumidor ao erro ou engano quanto à natureza e reais características de composição e qualidade do alimento também são proibidas pela legislação sanitária. Por exemplo, o Decreto Lei 986/69 prevê que os alimentos fantasia ou imitação, devem estar corretamente rotulados, não podendo mencionar indicações especiais de qualidade, nem trazer menções, figuras ou desenhos que possibilitem falsa interpretação ou que induzam o consumidor a erro ou engano quanto à sua origem, natureza ou composição.

Uma forma de assegurar a aquisição e consumo seguro do café de verdade é observar e comprar produtos que tenham o selo de pureza e qualidade da Abic.

A ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados) disse que está acompanhando de perto os desdobramentos do “café fake” e já repassou o alerta da ABIC aos seus associados, reforçando a importância da transparência e da qualidade para o consumidor.

“Essa fraude é um desrespeito com o Brasil, que produz 40% do café mundial. Com os mais de 300 mil produtores, com as mais de 1.300 indústrias. A ABIC, junto com entidades públicas e privadas, está focada em garantir a desefa do consumidor do direito dele tomar sempre um café de qualidade”, garantiu o presidente da ABIC.

Em nota divulgada pela agência Reuters, o fabricante do Oficial do Brasil, a Master Blends, com sede em Salto de Pirapora (SP), afirmou que criou um “subproduto” do café, deixando claro isso na embalagem, e que não aceita que digam que a companhia está enganando os consumidores. “Somos uma empresa que está no mercado há 32 anos, jamais enganamos o consumidor.Em momento algum falamos que é café, criamos apenas um subproduto para atender uma classe que está sofrendo a cada dia que passa, este produto é composto de café e polpa de café torrado e moído, está escrito ‘bebida à base de café’ na frente e também atrás da embalagem.” destacava ainda a nota.

ABIC promove debate sobre “Café fake”

Nesta quarta-feira (19) a ABIC promoveu remotamente e presencialmente na sede da Instituição o debate “Defesa do Consumidor X Café Fake”.

O evento contou com a presença de entidades públicas e privadas, e marcou a assinatura do termo de cooperação para o “Projeto Gondola Certificada”, uma iniciativa que reforça o compromisso com a transparência, a qualidade e a segurança de alimentos, beneficiando os consumidores e a cadeia produtiva como um todo. O projeto tem o apoio da Federação da Indústria do Rio de Janeiro (Firjan), do Sincafé  e da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj).