O ressurgimento do sorotipo 3 da dengue acendeu alerta para uma nova epidemia no Brasil. Inativo por mais de 15 anos, a possível reintrodução do vírus representa, hoje, a maior preocupação das autoridades em saúde pública de Campo Grande. Em 2023, Mato Grosso do Sul registrou o maior pico de mortes dos últimos dois anos, com 42 óbitos.

Mesmo sem registros da dengue 3 no Estado, Veruska Lahdo, superintendente de Vigilância em Saúde da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), destaca que as ações serão voltadas para evitar a reintrodução do vírus e, por consequência, uma nova epidemia neste ano.

“Desde o ano passado vem ocorrendo a circulação da dengue 3 no país, que não circula em Campo Grande há 15 anos. Quando um vírus é reintroduzido após anos, o risco de uma nova epidemia é alto, mas por enquanto o cenário está tranquilo”, explica.

Segundo a superintendente, a última grande epidemia ocorreu na época em que o sorotipo 3 da dengue estava em circulação em Campo Grande.

Além disso, outro fator que acende alerta são as mudanças geradas pela instabilidade climática. Com altas temperaturas e períodos chuvosos, a expectativa é que o número de criadouros aumente. Para 2024, a OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta para a combinação entre calor e chuvas intensas, provocadas pelo El Niño.

Campo Grande notificou 579 casos de dengue em 2024

No primeiro mês do ano, Campo Grande notificou 579 casos, cenário positivo, se comparado ao mesmo período do ano anterior, quando foram contabilizados mais de 1.200 casos da doença.

“O período mais crítico para a doença costuma ocorrer entre os meses de março e junho. Em 2022, quando houve um pico de casos, o aumento foi identificado justo nesse período”, ressaltou.

Boletim da dengue (Divulgação)

Para evitar que os casos positivos evoluam para óbitos, a superintendente explica que foram adotadas medidas como abertura da sala de situação, para combate das arboviroses, além de investir na capacitação em manejo clínico aos profissionais de saúde.

“A capacitação do profissional em manejo clínico é o que previne que o caso evolua para óbito. Saber identificar uma pessoa com dengue e o risco de agravamento pode impactar na redução dos casos graves”, diz.

Em Campo Grande, sete bairros concentram o maior número de casos e seguem no radar da Sesau: Los Angeles, Noroeste, Centro Oeste, Núcleo Industrial, Parati, Nova Campo Grande e Rita Vieira. “Todo o trabalho do controle de vetores como fumacê, bomba costal, são direcionadas nessas regiões com maior número de casos e óbitos. Além das visitas de rotina nas casas para evitar os focos”, explica a superintendente.

Veruska Lahdo explica que mesmo sem um motivo aparente, as regiões críticas costumam se repetir todos os anos. Segundo ela, isso se deve à falta de conscientização por parte da população, uma vez que o maior percentual de focos são registrados nas residências.

“Existem pontos estratégicos que exigem mais atenção, como ferros-velhos, terrenos baldios, floriculturas, borracharias. No entanto, nesses bairros a grande maioria dos focos são encontrados nas casas, o que indicia que é preciso investir na conscientização da população”, ressalta.