O projeto “Sementes do Taquari”, que vai reflorestar uma área total de 6 mil hectares de solo degradado no Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, na região entre Costa Rica e Alcinópolis, avança com ações que recuperam o solo e o plantio de mudas nativas.

A degradação, ao longo de décadas, foi resultado da má conservação do solo (ausência de práticas conservacionistas), com a monocultura da soja, e omissão dos governos na sua recuperação. A falta da adoção de técnicas de manejo do solo e o desmatamento resultaram no assoreamento do Rio Taquari, que inundou mais de um milhão de hectares no Pantanal.

O “Sementes do Taquari”, criado pelo Governo do Estado, terá duração de seis anos com o plantio de até 2 milhões de árvores, sendo 270 mil mudas neste ano. É considerado o maior projeto de recuperação ambiental em unidade de conservação do Brasil, realizado pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) com apoio de instituições e empresas privadas.

Assoreamento no planalto entupiu o Taquari, que perdeu seu curso e inundou permanentemente extensa área do Pantanal

Para conferir o andamento do projeto, o diretor-presidente do Imasul, André Borges, visitou uma das três sedes do parque, na antiga Fazenda Continental. Ele esteve acompanhado pela chefe do parque, a fiscal ambiental Martha Gilka.

A área visitada foi adquirida pelo Governo do Estado, em março de 2023, no total de 2.765 hectares. “Esta aquisição foi muito importante para o nosso trabalho, pois a área abriga as nascentes de dois córregos tributários do rio Taquari, Garimpinho e Garimpeiro. Além disso concentra um conjunto de 39 voçorocas que despejam toneladas de sedimentos no rio”, explicou Martha.

Plena recuperação

Com a aquisição da área, o gado foi retirado da propriedade. A partir daí foram realizados vários levantamentos para dar início às ações de restauração. Martha lembra que em julho do ano passado foi realizado serviço de conservação do solo em 70 hectares de terraceamento de base larga, caixas de contenção, visando a redução da perda de solo e estabilização de taludes.

Recuperação de área degradada faz parte do projeto Sementes do Taquari, que evita o assoreamento dos rios e preserva nascentes

O plantio de espécies nativas, segundo a chefe do parque, começou em janeiro. Foram utilizadas cerca de 51 espécies do cerrado como ipê, balsamo, angico, aroeira, sendo que 20% são plantas frutíferas para alimentar os animais silvestres, entre elas o baru, pequi, jenipapo, jatobá. Eles vistoriaram também áreas onde foram feitas curvas de nível, muvuca de sementes e plantadas inúmeras espécies nativas.

“São áreas que estavam degradadas e agora encontram-se em plena recuperação”, comemorou.

O diretor-presidente do Imasul, André Borges, destacou que o parque tem 30 mil hectares, e que a função do Estado é proteger esta área e desenvolver ações de recuperação.

André Borges e Martha Gilka em visita à área

“Nosso acompanhamento mostra que o programa já tem surtido excelentes resultados. Em apenas sete meses já diminuímos quatro vezes o volume de sedimento nos rios, tivemos um aumento na presença de peixes nas nascentes. Todos estes são bioindicadores de qualidade do ambiente”, pontuou.

Borges salienta que a revegetação segura a força da água da chuva, pois mantém a terra coberta por vegetação. “Tudo isso, as curvas de nível, os terraços, fazem com que esta água perca a força que é não gere o grande problema da erosão. Temos ainda o monitoramento que detectou a volta de animais silvestres e uma variedade muito grande de peixes”, enfatizou.

Maior projeto

O Projeto “Sementes do Taquari” tem a meta de restaurar aproximadamente 6 mil hectares anexados ao Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, na região norte de Mato Grosso do Sul – entre os municípios de Alcinópolis e Costa Rica. O objetivo é plantar mais de 270 mil mudas todas nativas.

As voçorocas que comprometem aproximadamente 40 hectares estão sendo recuperadas. Equipes de campo plantam sementes nas voçorocas para conter a perda de sedimentos. A etapa seguinte consiste no plantio das mudas, o que é feito pela ONG (organização não governamental) Oreades, apoiada pelas empresas Cargil, ATVOS e Adecoagro.

A chefe do parque, Martha Gilka, lembrou que cada hectare tem recebido cerca de 1.200 mudas. “Nossa meta é atingir 260 hectares cultivados com mudas até o final do ano”.

A exploração da agricultura no planalto sem controle ambiental gerou um cenário lunático, com dezenas de voçorocas

O secretário Jaime Verruck, da Semadesc (secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), destacou a importância da iniciativa que mostra o esforço do Governo do Estado em recuperar o Rio Taquari a partir de intervenções nas suas nascentes, evitando que sedimentos sejam carreados para o leito do rio e provoquem o assoreamento no trecho em que atinge a planície pantaneira.

“Este é o maior projeto de recuperação ambiental em unidade de conservação do Brasil, uma iniciativa que partiu da nossa equipe técnica e está alinhada com o Prosolo”, afirmou.

Crédito de carbono

Outro ponto importante, lembrado pelo secretário, é que o projeto pode representar uma nova etapa na meta do Estado em se tornar carbono neutro em 2030.

“Nosso objetivo além da recuperação do solo e evitar o assoreamento dos rios é trabalhar com o crédito de carbono. Estas regiões elas têm um potencial enorme de gerar créditos de carbono também. Nosso objetivo é a questão ambiental, mas também criar outras alternativas de geração de renda com sustentabilidade”, concluiu.